De Levi-Strauss à James Hillman
Trabalho apresentado no III Congresso Latino-Americano de Psicologia Junguiana, maio 2003
Salvador – Bahia
“O que viso é produzir algo de eficaz, é produzir um estado psíquico, em que meu paciente comece a fazer experiências com seu ser, um ser em que nada mais é definitivo nem irremediavelmente petrificado; é produzir um estado de fluidez, de transformação e de vir a ser.”
C.G. Jung[1]
Ainda hoje, a psicoterapia recebe críticas e questiona-se sua eficácia. O trabalhar do analista é muitas vezes equacionado a outras especialidades, como se pudesse ser facilmente substituível. Obviamente, muitas atividades podem ser terapêuticas para nós, como por exemplo, conversar com um amigo ou ir ao cabeleireiro, mas fazer análise é algo específico.
Porém, pelo que vejo, mesmo nós analistas, já sentimos alguma inquietude e temos inúmeras questões (o que não é necessariamente ruim) quanto ao que efetivamente fazemos com nossos pacientes ou buscamos em nossas análises.
A questão é que sempre acreditei que precisamos ter a certeza de que estamos trabalhando e a consciência do como fazemos este trabalho, caso contrário, o que podemos oferecer aos nossos pacientes e a nós mesmos?
Minha vivência mostra-me que na análise trabalha-se e muito, e que esta produz efeito. O analista tem muito trabalho sim, tem responsabilidade sim, tem algo a fazer e a dizer, auxilia em reconstruções, em transformações, mas, não somos médicos, não somos interpretadores de sonhos.
Também compreendo que as pessoas nos procuram por motivos, digamos assim, “médicos”: querem parar de sofrer, querem se livrar de formas de ser insuportáveis, estão doentes da alma. E, não é porque não trabalhamos à partir de um modelo médico que deixamos de auxiliar (ser eficazes), afinal nossos pacientes continuam conosco porque sentem que a análise lhes faz bem: eles melhoram![2] E nós, trabalhamos.
Então, qual seria o modelo, a imagem para este trabalhar?
O que somos e fazemos em nossas práticas clínicas? Quais imagens podem ser dadas ao nosso trabalho?
Tanto Jung, quanto Hillman, se deram ao trabalho de refletir sobre nossa prática à partir de imagens, ancorados na definição de Jung de que “psique é imagem”[3], de que lidamos com processos da imaginação. E que este imaginar determina/governa toda a realidade.
Marcam-me cinco imagens trazidas por Jung para a análise, o analista e o paciente: a de um jardineiro, o pescador, o artista, o cabeleireiro e o costureiro. Reparemos: todas estas imagens não são médicas, nem heroicas. Notemos: várias pessoas dizem ser estas atividades “terapêuticas”. Mais: acaba por existir uma espécie de relação, de trabalho conjunto entre o jardineiro e suas plantas, o pescador e o mar, o artista e suas obras, o cabeleireiro e o costureiro suas clientes. E, por fim: são todas estas atividades manuais, envolvem um certo “colocar a mão na massa”.
O jardineiro aparece quando JUNG, diz: “[…] uma árvore que cresceu torta não endireita com uma confissão, nem com o esclarecimento, […]ela só pode ser aprumada pela arte e técnica de um jardineiro.”[4]
Várias vezes em Jung vemos o trabalhar da análise equiparado ao do pescador, quando enxergamos os conteúdos do inconsciente como peixes: “[…] A margem do rio representa, por assim dizer, o limiar do inconsciente. O ato de pescar é uma tentativa intuitiva de “fisgar” ou apreender os conteúdos (peixes) do inconsciente.”[5]
De todas as imagens a mais explorada no meio psicológico talvez seja a do artista, temos vários textos sobre as relações entre a arte e a psicologia. Palavras de JUNG: “[…]a análise não é um método que possa ser monopolizado pela medicina; é também uma arte […].” [6]
O cabeleireiro. JUNG, em seu texto, A Árvore Filosofal diz [7]: “[…]frequentemente em sonhos de mulheres, o analista é representado como um cabeleireiro (porque ele “arruma” a cabeça) […]o analista (diz o sonho) não deve ser mais significativo que um cabeleireiro que põe sua cabeça no lugar de modo que então ela possa usá-la sozinha”. Lembro-me de ter tido alguns sonhos onde minha analista fazia minhas unhas, era minha manicure: um trabalho manual sobre minhas mãos.
JUNG[8] relaciona o trabalho de um analista ao de um alfaiate ou costureiro à partir de um sonho de um paciente dele onde aparece a imagem de uma costureira, diz: “Costurar é unir coisas. O método precisa ter o propósito de unir, juntar o que foi separado. Aquilo que devia ser juntado no homem, psicologicamente, é o consciente e o inconsciente. A análise une a ambos – e isso é integração.”
HILLMAN, remete-nos à imagem do cultivo da alma a partir de suas imagens. A alma não é dada, precisando ser cultivada, necessitando de nossa intervenção[9] e trabalho para que “tome forma”. Relacionando-se à imagem do jardineiro, onde o cultivo modifica a natureza simplesmente deixada a seu curso: “O jardim, afinal, não é natureza, mas arte.”[10]
Em outro momento HILLMAN lembra-nos de Sócrates falar sobre o método dialético funcionar como uma parteira e articula a análise ao trabalho de um parteiro: “[…] o analista intensifica um processo que é fundamentalmente do próprio analisando”[11] , auxiliamos no nascer daquela alma.
Hillman propõe em seu livro Healing Fiction as imagens do escritor e cantor para o analista:
“[…]Um diagnóstico psicológico, também é um ‘contar sobre o paciente’. […]Um diagnóstico psicológico não diz o que uma pessoa tem ou o que a pessoa é. Ele descreve o seu Zustandbild, seu retrato clínico. Ele nos conta sobre a apresentação da personalidade para o escritor clínico.”[12]
Um cantor. “A conversa que acontece na análise profunda não é meramente a análise da história de uma pessoa por outra, e tudo mais que está acontecendo na sessão de terapia – ritual, sugestão, eros, poder, projeção – é também uma competição entre cantores, reencenando uma das mais antigas diversões culturais que nós humanos conhecemos. […] A terapia bem sucedida é pois a colaboração entre ficções, uma revisão da história através de uma trama mais inteligente, mais imaginativa[…]. Infelizmente, nós terapeutas não estamos suficientemente conscientes de que somos cantores. Perdemos muito do que poderíamos estar fazendo.”[13]
E, entre imagens, sugere também a do bricoleur.
Escolhi a imagem do bricoleur, por ser a menos conhecida para mim, por ter tido uma experiência de aula na qual a professora, uma analista, nos trouxe a imagem do bricoleur na antropologia fazendo-me, naquele momento, lembrar das palavras de Hillman sobre o bricoleur, que havia lido em seu livro “The Dream and the Underworld”.
Descobri que esta imagem para a análise, faz-me sentido e traz algumas respostas para as minhas constantes questões sobre o trabalhar do analista.
Percorreremos os termos bricoleur, bricolage, bric á brac, de Levi-Strauss à James Hillman. Em Levi-Strauss iremos ao “Pensamento Selvagem”[14], um pensamento sem uma ordem prévia; em Hillman iremos ao “escamotear hermético”[15] do bricoleur em lojas de “bric á brac”, um trabalhador manual recortando e colando, “solve et coagula
BRICOLEUR
Bricoleur, do francês, significa[16] uma pessoa que faz todo o tipo de trabalho, trabalhos manuais.
Bricoler, um verbo, tem o sentido[17] de ziguezaguear, fazer de forma provisória, falsificar, traficar. Ou, jogar por tabela, utilizar meios indiretos, tortuosos e rodeios[18]. O verbo bricoler, em seu sentido antigo, aplica-se ao: “jogo de péla e de bilhar, à caça e à equitação, mas sempre para evocar um movimento incidental: o da péla que salta muitas vezes, do cão que corre ao acaso, do cavalo que se desvia da linha reta para evitar um obstáculo”[19].
Bricole, um substantivo, “catapulta, ricochete, engano, astúcia, trabalho inesperado”[20] ou “pequeno acessório, coisa insignificante.”[21] E, bricolage, “trabalho de amador; na antropologia trabalho onde a técnica é improvisada, adaptada ao material, às circunstâncias.”[22]
Ainda temos o bric-à-brac, a lojas de bricabraque, onde encontramos móveis e vestuários antigos, objetos de arte ou artesanato, lojas de compra e vende[23].
Tenho visto em Curitiba, cidade onde moro, lojas se intitularem como lojas de “bricolagem”, vendendo artigos para jardinagem, marcenaria, artigos tipo “faça você mesmo”.
Estamos, portanto, falando de: desvio dos meios costumeiros e literais, meios indiretos, trabalho manual e artesanal, “faça você mesmo”, sucata, desmontar e montar, antiguidades e artigos de segunda-mão. Comércio. Jogo e movimento incidental. Improvisos.
À partir do sentido da palavra bricolagem já podemos pensar em algumas imagens para o nosso trabalhar:
Os meios indiretos e, por isso mesmo, eficazes, com os quais conduzimos nossos pacientes a perceberem suas condutas. Aquela frase dita que irá reverberar dias depois. A bola que bate e ricocheteia no canto da mesa de bilhar, acertando (ou não) o alvo; tal como quando tocamos em determinados assuntos, utilizamos algum tom de voz e, quase incidentalmente, chegamos ao “ponto”, do que ocorre à pessoa – algumas vezes sem ficarmos sabendo, afinal os “insights” são do paciente e não necessariamente nossos!
Os desvios de rota que automaticamente fazemos quando sentimos que estamos pisando em “terreno minado”, assuntos intocáveis pelo menos naquele momento, qual o cavalo que muda de direção por farejar obstáculos.
O “tráfico” de informações que acontece quando percebemos de forma marginal (inconsciente) questões acerca de um paciente, seja em imagens que dele fazemos, lembranças que temos de filmes justo no momento em que o paciente nos conta um sonho ou um sonho que com ele temos.
O trabalhar do bricoleur assemelha-se ao jogo. O jogo, a brincadeira, o passatempo, o movimento incidental, tão difíceis em nossa sociedade ofuscada pelo poder, pela falta de tempo e pela ânsia em sermos “pontuais”, “focados” e “eficientes”; esquecendo de que a eficiência talvez possa vir justamente daquilo que chamamos de “passatempo”. A importância do lúdico sempre bem lembrada por JUNG.[24]
Talvez por isso, nós analistas inseridos em uma cultura que não pode nunca parar, fiquemos incomodados: parece que estamos “brincando”, apenas “conversando”. A bricolagem nos ajuda: vamos sim jogar, brincar, conversar, é este o método, é este o trabalho. E é só à partir deste tipo de trabalho, e não outro, que podemos vir a ser eficazes. Pois a própria psique está constantemente jogando, não é à toa que muitas vezes o jogo e a bola são vistos como expressões deste jogo psíquico.
O trabalho de bricolage, é um trabalho artesanal que produz transformações ao colocar os objetos em movimento e em relação, e o nosso, ao movimentar[25] as imagens de um indivíduo, também.
A palavra bricoleur evidencia também o sentido de um trabalhar com o inesperado, com aquilo que se apresenta, com o que se tem à mão, um adaptar-se às circunstâncias. Nas sessões de análise sempre há um novo, um inesperado; não há como nos prepararmos, traçarmos um plano prévio para as sessões com nossos pacientes. Este sentido é visto na antropologia.
DE LÉVI-STRAUSS À JAMES HILLMAN
Uma bricolagem com suas ideias
Para LEVI-STRAUSS, o pensamento mítico é, em sua natureza, uma forma de bricolagem. E, em seu livro Pensamento Selvagem, ele explica qual é o método do bricoleur o contrapondo ao do engenheiro.
O engenheiro possui um plano pré-estabelecido, constrói à partir de matérias-primas. A bricolagem, ao contrário, não possui um projeto pré-concebido e se afasta do caminho conhecido, constrói à partir de sobras, pedaços de material já utilizado, do desmonte de peças.[26]
A bricolagem como um jogo de decomposição e recomposição, onde coisas velhas ou estragadas podem ser reconstituídas; ou à partir do trabalho com objetos usados algo novo pode surgir. Um novo uso para aquela cena triste da infância. Um sonho que aproveita “sucatas” da percepção misturando cenas do dia anterior com pessoas desconhecidas em um cenário surreal, que passa a nos desconsertar. Neste sentido, o sonho em si já é uma transformação.
HILLMAN torna claro que a própria imaginação, a fantasia, o sonho, faz este trabalho de bricolagem. E que, seguindo o princípio do igual cura o igual[27], devemos também utilizar este método para o trabalho com as imagens: “[…]o bricoleur do sonho é um trabalhador manual, que toma os pedaços de lixo abandonados pelo dia e brinca com eles, juntando os resíduos numa colagem. Ao mesmo tempo que os dedos que formam um sonho destroem o sentido original desses resíduos, também os formam num novo sentido dentro de um novo contexto.” [28]
Vemos, então, a imaginação aproximando-se da “colcha de retalhos” da bricolagem: deformando, alterando e costurando as percepções. Trabalharíamos à imaginação a seu modo: colocando as imagens em movimento, e isto é trabalhoso, envolve técnicas específicas que se aproximam do bricoleur e do alquimista, exige fazermos com elas várias “operações”[29]: a separatio em desmembrar os vários momentos de uma determinada situação que o paciente nos relata; o desmanche ao sublimar as imagens de seu sentido literal; a putrefatio quando vamos deixando que uma frase dita no início da sessão vá exalando seus odores e contaminando todo o restante até para que algo brote.
O perigo é que, ao desmontar, podemos perder o rumo, ficarmos tão fascinados pelo desmonte que nada mais criamos. Lembro-me de pessoas que conheci que tinham “mania” de desmontar tudo e acabavam por se perder. Esse é um dos perigos de nosso trabalho: o desmonte pode nos levar a perder o fio da meada, quando o trabalho do analista pode ficar em apenas esmiuçar a vida do paciente sem nada “colar” ou através do “desmanche” afastar-se demais da imagem que o sonho propõe. Ou ainda, tornar-se um mero exercício de colecionar sonhos e nada com eles fazer, não havendo um efetivo trabalhar.
LÉVI-STRAUSS, para explicar o “colecionar” do bricoleur, nos remete ao profundo conhecimento que os índios possuem sobre as plantas, a riqueza de linguagem que se utilizam para descrevê-las e seus conhecimentos de sua utilidade medicinal. Tornando claro que, se eles possuem tal conhecimento, é por serem extremamente curiosos sobre a natureza, por possuírem uma paixão por conhecer; estes fatores, a curiosidade e a paixão, vindo antes da busca pela utilidade. Se descobrem a utilidade, por exemplo das plantas como medicamentos, é porque conhecem as plantas e não que as tenham buscado conhecer porque visavam alguma utilidade[30]. Considero esta questão fundamental para nossa imagem do analista como bricoleur, a utilidade como consequência de nos encantarmos por querer sempre conhecer a pessoa que está em nossa frente.
Esta atitude deve ser vista como um tipo de ciência, um espírito científico que se guia pela intuição, pela “curiosidade assídua e sempre alerta”[31], pelo paradoxo do “[…]saber desinteressado e atento, afetuoso e terno, adquirido e transmitido num clima conjugal e filial[…]”, à maneira de um bricoleur, colecionando conhecimentos que um dia viriam a ser utilizados.[32] E, depois, debruçar-me sobre eles para trabalhar e deste trabalhar algo nasce, na maioria das vezes, de forma intuitiva. Não estando trabalhando com o princípio da causalidade e sim buscando por relações e assim conseguir alguma ordem[33].
É um fazer diferente daquele com o qual estamos acostumados, um fazer semelhante ao das artes: “[…] é um jogo das escondidas em que apenas se sabe o que se procura quando se chega a encontrá-lo. Quem não for artista terá dificuldade em acreditar que esta incerteza, esta necessidade de arriscar, possa constituir a verdadeira essência do trabalho criador.”[34]
Neste momento faço um “parênteses” para introduzir um pouco da arte, temos artistas que trabalham com técnicas de colagem. Os mais conhecidos são Picasso, Matisse. Há um conhecido trabalho de Picasso chamado o “Crânio de Touro” (fig.1) onde ele junta um guidão e um assento de bicicleta e forma um touro; outro chamado “Mulher com carrinho de bebê” (fig.2) no qual reúne formas de bolos e boca de fogão.
Porém, o que aqui ainda mais nos interessa é sua fala sobre a gênese dessas criações: “Um dia encontrei num montão de sucata, um selim de bicicleta e ao lado o guiador enferrujado…ambas as peças se ligaram momentaneamente na minha imaginação…a ideia para a cabeça de touro nasceu, sem que eu tivesse refletido sobre isso, apenas tive de o soldar.”[35] E, em outro momento: “Um dia pego no selim e no guiador, junto-os, faço uma cabeça de touro. Muito bem. Mas o que eu deveria ter feito logo em seguida: atirar fora a cabeça do touro. Atirá-la para a rua, para a valeta, para qualquer parte, mas deitá-la fora. Viria então um trabalhador, apanhá-la-ia e acharia que se poderia talvez fazer desta cabeça de touro um selim e um guiador. E fá-lo-ia …Teria sido maravilhoso, é o dom da transformação.”[36]
fig.1-PICASSO – Cabeça de Touro
fig.2-PICASSO – Mulher com Carrinho de bebê
As artes e os sonhos com seus “trocadilhos” que, em si, são uma criação, nos convidando a também buscarmos sempre um duplo-sentido em nós mesmos. O paradoxo de nosso ser.
Podemos ser isto e aquilo, podemos ser descontínuos e inacabados, em contínua transformação, vivermos com aquilo que se nos apresenta. E, mesmo com todo este movimentar, existir uma objetividade, um contorno. Precisamos resgatar a profundidade e precisão que pode estar contida no improviso: a nota certa, por exemplo, de Miles Davis no jazz que dizia: “De que adianta usar todas as notas! Basta usar as melhores.”[37] As imagens são precisas.
Isso não é fantástico? Vamos colecionando frases de nossos pacientes, situações, imagens seja de sonhos, de falas, imagens sobre eles que brotam em nossas almas e, depois da bricolagem com estas imagens, uma trama emerge! Precisa. Então, surge a eficácia da análise: este trabalhar faz com que o paciente se compreenda, se componha: colagens internas sendo feitas. “Dom da transformação” como diz PICASSO, e “estado de fluidez” como diz JUNG em minha primeira citação com vocês[38]: podemos olhar para os fatos de nossas vidas de diversas formas, o perigo sendo o olhar petrificado, a rigidez.
O bricoleur é descrito como alguém que trabalha com as mãos, de forma artesanal.
Um trabalho manual, o que as mãos teriam a ver? Aqui chegamos a HILLMAN que fala das mãos de uma forma especial: “[…] Elas são nosso primeiro contato com o concreto, são como nos defendemos, como nos expressamos, aquilo que damos uns aos outros. Nelas está nossa sensibilidade.”[39]
De acordo com JUNG[40]: “[…]a mão tem realmente o significado de gerar”. Penso que as mãos têm o poder de gerar no sentido de que, com as mãos, manipulamos, mexemos, alcançamos algo: o transformamos, e isso é criar. Este um momento importante: nosso trabalho não é contemplarmos imagens (quando dizemos que não interpretamos algumas pessoas pensam que nada fazemos) e sim com elas algo criarmos. Temos que fazer isto! Qual aqueles cristais que possuem um selo “man made”, um trabalho “feito à mão”: “uma verdadeira experiência sobre o objeto”.[41]
Trabalhamos com as mãos, manipulamos, nos envolvemos, colocamos as mãos na massa – daí sempre um duplo-caminho: manipular e envolver-se sempre carrega um certo tipo de perigo e duplo-sentido. As mãos e seu significado de singularidade, as digitais, o toque humano e pessoal[42]; as mãos[43] e seu sentido de nos colocar em relação. O processo artesanal difere do industrializado por esse caráter de unicidade e de relação com o objeto, cada peça de artesanato é única e tem a ver com o artesão que a fez e assim são as sessões psicoterápicas: o toque pessoal do analista está ali, para o bem ou para o mal e, nos colocamos em relação com o outro. O bricoleur sempre coloca algo de si em seu trabalho e sabe que este está sempre em construção[44].
Deste modo, ao “manipularmos” aquilo que é dado, aquilo que é natural, promovemos um trabalho à serviço da psique[45], um opus contra-naturam.
HILLMAN também fala que a bricolage seria “um método primário de trabalhar a fantasia[…]brincar e mexer com isto ou aquilo. […] Podemos apanhar apenas coisas pequenas, uma por vez, tentar isto com aquilo.” [46] É um trabalhar manualmente e, portanto, aos poucos, com coisas aparentemente insignificantes, como diz o termo bricole. Parece mesmo insignificante perguntarmos sobre um sonho quando um paciente está apavorado (e nós também preocupados) com um diagnóstico de “bipolar” e vem sofrendo a ponto de não conseguir trabalhar. Mas é assim, aos poucos através deste método, alguma “manipulação”, transformação, podemos fazer.
Um trabalho mais demorado mesmo como ressalta JUNG[47]: “Patientia et mora (paciência e lentidão) são indispensáveis nesse trabalho. Temos que saber esperar. Há trabalho suficiente com a elaboração atenta dos sonhos e dos demais conteúdos inconscientes. O que o médico não suporta, o paciente também não vai saber suportar.”
LEVI-STRAUSS também fala sobre o bricoleur trabalhar com “modelos reduzidos”[48] nos lembrando de trabalhos como barcos dentro de garrafas, jardins japoneses e miniaturas. Aproveito aqui para falar de Hélio Leites, um artista paranaense, um verdadeiro bricoleur: faz caixinhas de fósforos repletas de vida e história contadas por ele; um performer que faz de seu boné, da palma de sua mão ou boca (fig.3 e 4), um palco improvisado para apresentar seus objetos.[49]
Fig.3 e 4 – Hélio Leites e seu óculos de garfos com a caixa de fósforos na boca e a bailarina na palma da mão. (Fotos: NASCIMENTO, Kátia)
Em outro momento, HILLMAN[50], nos faz perceber que a palavra em alemão para comércio, que é Handel, também tem a ver com Hand que significa as mãos, e nos damos conta de que o bric-à-brac é um estabelecimento comercial, onde encontramos objetos “second-hand,” trocas são feitas. Daí para observarmos o aspecto mercurial da análise é um passo. Nosso trabalho envolve trocas, comércio: vem uma imagem, te dou outra; respondemos a uma imagem com outra; uma imagem lembra a outra e assim construímos um mural de quem somos. Aquele mural de fotos, dizeres, cartões postais, que muitos de nós temos e que tanto sobre nós diz. Objetos de segunda-mão: a imagem já “velha” de nossa infância, hoje pode ter um outro uso, um outro sentido ou, trazer-me um rumo. Passamos a olhar para nós mesmos não mais da forma convencional com a qual sempre nos olhamos ou fomos olhados: improvisamos com nosso ser.
DE HERMES À EROS
Os aspectos mercuriais, herméticos relacionados ao bricoleur, portanto, facilmente deixam-se mostrar: a astúcia, a marginalidade, o saber lidar com as mãos (Hermes fez a lira com as mãos), o comércio do bricabraque, as trocas. O estar em movimento[51], o centro e a verdade poderem estar em qualquer ponto, pois na bricolagem podemos montar e desmontar, e fazer sempre novos objetos, novas constatações. Nada é, nem deve ser, tão definitivo.
Eros, aparece no fato de ser a bricolage uma obra construída à partir de relações: seja o material psíquico sendo colocado lado à lado; seja a relação construída entre analista e paciente. Conforme HILLMAN[52], “a imagem mais antiga do bricoleur talvez seja a de “Eros, o Carpinteiro” […]esse aspecto sóbrio de Eros mostra a função aglutinadora não dentro do cosmo de Afrodite, mas talvez em conexão com Atena.”
Costumamos pensar em Eros com asas e flechas, e esta imagem realmente nos convida a um aspecto mais “prático” de Eros[53], mais de trabalho. Eros em relação com Atena, uma deusa estrategicamente trabalhadora.
O trabalhar da análise como um trabalho onde a relação é o que temos a oferecer; e neste relacionar tentamos oferecer o que temos de melhor: coleções de imagens que ao longo dos anos ouvimos, vemos ou farejamos; nossa curiosidade assídua e sempre alerta por emoções, palavras, olhares: imagens; nosso saber que advém de muita bricolage: trocas com colegas, leituras, experiências com nosso próprio ser e habilidade para o jogar o jogo de bricolage da própria psique.
Os analistas são um de nossos grandes interlocutores nesta vida, com os quais desenvolvemos uma espécie de relação que faz florescer nossa alma (mesmo que nossas vidas aparentemente não mudem muito): um mundo em uma caixa de fósforos qual o bricoleur paranaense Hélio Leites. Ao longo do aparentemente insignificante tempo e trabalho das sessões analíticas criam-se possibilidades infinitas de experiências com o nosso ser! E, é esse trabalho que nos “cura”, é essa a eficácia da psicoterapia porque este trabalhar ao estilo “faça você mesmo” que envolve desconstrução acaba por construir o sujeito: “[…] é a obra de arte que dá vida ao artista!”[54]
Uma ressalva: não estou defendendo haver uma imagem, um modelo para a análise melhor que outro ou único. São várias as imagens que compõe o processo analítico e seu trabalhar. Novamente o bricoleur: este poder colecionar, viver e relacionar diversas imagens é que nos faz como analistas pois auxilia no mesmo processo intrapsíquico do paciente.
Um trabalhar que muitas vezes caminha na contramão dos valores de nossa cultura, mas que em outros aspectos é igual a qualquer trabalhar que, se for sério, envolve dúvidas, suor, preparo e, é claro, satisfação.
“Assim pois estuda, medita, sua, trabalha, cozinha…abrir-se-á então para ti uma torrente salutar […]tornando-se uma verdadeira aqua vitae natural”.[55]
“A bricolage parece destruir a ambição, a glória, as asas.”[56]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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WALTHER, I.F. Pablo Picasso. Koln: Benedikt Taschen Verlag,1994.
FIGURAS
Fig.1.PICASSO, P. Cabeça de Touro. In: JANSON, H.W. História da Arte. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.
Fig.2. PICASSO, P. Mulher com carrinho de bebê.
Fig.3 e 4- NASCIMENTO, K. Hélio Leites.
Disponível em: <http:www.an.com.br/2002/jul/25/0na.htm.>acesso em: 25.02.2003.
[1] JUNG, C.G. A Prática da Psicoterapia. (103)
[2] Como diz Jung ao falar dos supostos objetivos de uma análise dos sonhos, em seu volume A Prática da Psicoterapia, “[…]Não posso deter-me na questão de saber se os resultados da meditação sobre o sonho são seguros ou cientificamente comprováveis. […]Devo contentar-me simplesmente com o fato de que ele significa algo para o paciente e faz fluir a sua vida. O único critério que posso admitir, portanto, é que o meu esforço seja eficaz”.
Op.cit.(86)
[3] JUNG, C.G. Alchemical Studies. (75)
[4]JUNG, C.G. A Prática da Psicoterapia. (153)
[5] JUNG, C.G. Aion, estudos sobre o simbolismo do si-mesmo. (237)
[6] JUNG, C.G. O Eu e o Inconsciente.p.148.
[7] JUNG.C.G. Alchemical Studies. (479). Tradução livre de: “[…]as not infrequently happens in a women’s dreams, the analyst is represented as a hairdresser (because he “fixes” the head)[…]The analyst (says the dream) should have no more significance than the hairdresser who puts her head right so that she can then use it herself.”
[8] Tradução livre de: “Sewing is fastening things together. The method must aim to fasten together, to join that which has been separated. That which should be joined together in the man, psychologically, is the conscious and the unconscious. Analysis fastens them together – and that is integration.”
JUNG, C.G. Dream Analysis – notes of a seminar given in1928-1930. p.92
[9] O opus contra-naturam: “A alma não é mera natureza, nossa intervenção, por confusa ou intencional que seja, parece ser necessária aos seus movimentos.”
HILLMAN, J. O Mito da Análise. p.30.
[10] HILLMAN, J. Cidade e Alma.p.126.
[11] HILLMAN, J. Suicídio e Alma. p.166.
[12] Tradução livre de: “[…] A psychological diagnosis too is a ‘telling about the patient’. […] A psychological diagnosis does not say what a person has, or what a person is. It describes his Zustandbild, his clinical picture. It tells about the
Presentation of self to the clinical writer.”
HILLMAN, James. Healing Fiction. p.15
[13] Tradução livre de: “The talk going on in depth analysis is not merely the analysis of one person’s story by the other, and whatever else is going on in a therapy session – ritual, suggestion, eros, power, projection – it is also a contest between singers, reenacting one of the oldest kinds of cultural enjoyments that we human know. […] Successful therapy is thus a collaboration between fictions, a revisioning of the story into a more intelligent, more imaginative plot […]. Unfortunately, we therapists are not aware enough that we are singers. We miss a lot what could be doing.”
HILLMAN, James. Healing Fiction. p.18
[14] Título do livro de Lévi-Strauss:
LÉVI-STRAUSS, C. O Pensamento Selvagem.
[15] Frase utilizada por HILLMAN em:
HILLMAN, J. The Dream and the Underworld.p.130
[16] “Pessoa que exerce toda sorte de ofícios”.
ROUSÉ, J.; CARDOSO, E. Dicionários Bertrand.
[17]“Ziguezaguear, trabalhos manuais de todo o tipo, reparar tanto bem quanto mal, de forma provisória, arranjar por falsificação, traficar.”
ROBERT, P. Dictionnaire allphabétique de la langue française.
[18]“Jogar por tabela, não seguir caminho direito, usar de rodeios[…].”
ROUSÉ, J.; CARDOSO, E. op.cit.
[19] LÉVI-STRAUSS.op.cit.p.32.
[20] idem.
[21] ROBERT, P. op.cit.
[22] idem.
[23] Bricabraque: “do francês bric-à-brac.1.Conjunto de diversos e velhos objetos de arte ou artesanato, antiguidades, móveis, vestuários, bijuterias, etc.; 2. Estabelecimento comercial que compra e vende tais objetos.”
FERREIRA, Aurélio B.de H. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa.
[24] “O poder da imaginação, com sua atividade criativa, liberta o homem da prisão da sua pequenez, do ser “só isso”, e o eleva ao estado lúdico. O homem, como diz SCHILLER, “só é totalmente homem, quando brinca.”
JUNG, C.G. A Prática da Psicoterapia. (103)
[25] LOPEZ-PEDRAZA fala de uma “habilidade artesanal” do analista para colocar as imagens em movimento: “[…]podemos começar a enxergar a psicoterapia como um laboratório de imagens conduzido pela habilidade artesanal de um psicoterapeuta e por sua capacidade de gerar imagens.”
LOPEZ-PEDRAZA, R. Hermes e seus filhos. P.31.
[26] “[…]à maneira do bricoleur que cuida das peças de um velho despertador desmontado e eles ainda podem servir para o mesmo uso ou para um uso diferente, por pouco que sejam desviados de sua função primeira.”
LÉVI-STRAUSS, C. op.cit.p.51.
[27] “Somente o Deus que trouxe a doença pode levá-la embora. Igual cura igual.”
HILLMAN, J. Cidade e Alma.p.78.
[28] Tradução livre de: “[…] the dream bricoleur is a handyman, who takes the bits of junk left over from the day and potters about with them, tacking residual things together into a collage. While the finger that form a dream destroy the original sense of these residues, at the same time they shape them into a new sense within a new context.”
HILLMAN, J. The Dream and the Underworld.p.127
[29] “[..]A alquimia resolveu esse dilema ao conceber seu trabalho deformador como um opus contra-naturam, um trabalho contra a natureza e ainda assim à serviço de uma natureza mais ampla que é animada ou almada. O trabalho alquímico teve que deformar a natureza a fim de servir a natureza. Teve que machucar (ferver, separar, despelar, dissecar, putrefazer, sufocar, afogar, etc.) a natureza natural a fim de libertar a natureza animada”.
Tradução livre de: “Alchemy resolved this dilemma by conceiving its deformational work to be an opus contra-naturam, a work against nature but yet in the service of a wider nature that is aimated or ensouled. Alchemical work had to deform nature in order to serve nature. It had to hurt (boil, sever, skin, desiccate, putrefy, suffocate, drown, etc.) natural nature in order to free animated nature.”
HILLMAN, J. The Dream and the Underworld. P.128
[30] “[…]as espécies animais e vegetais não são conhecidas porque são úteis; elas são úteis ou interessantes porque são primeiro conhecidas.”
LÉVI-STRAUSS, C. op.cit.p.24.
[31] “[…]não duvidemos de que foi necessária uma atitude de espírito verdadeiramente científico, uma curiosidade assídua e sempre alerta, uma vontade de conhecer pelo prazer de conhecer, pois apenas uma pequena fração das observações e experiências (sobre as quais é preciso supor que tenham sido inspiradas antes e sobretudo pelo gosto do saber) podia fornecer resultados práticos e imediatamente utilizáveis.”
Idem.p.30.
[32] “[…]os elementos são recolhidos ou conservados em função do princípio de que “isso sempre pode servir”.
Idem.p.33.
[33] LÉVI-STRAUSS esclarece que a utilidade medicinal é descoberta pelos índios a partir de colocar junto, de relacionar, a natureza e os humanos: “a verdadeira questão não é saber se o contato de um bico de picanço cura as dores de dente mas se é possível, de um determinado ponto de vista, fazer “irem juntos” o bico do picanço e o dente do homem e, através desses agrupamentos de coisas e seres, introduzir um princípio de ordem no universo.”
idem.p.24.
[34] JANSON, H.W. História da Arte. p.12.
[35] in: WALTHER, I.F. Pablo Picasso.p.48.
[36] idem.
[37] SALLES, W. Folha de São Paulo.
[38] Ver nota de rodapé número 1.
[39] HILLMAN, J. O Livro do Puer.p.133.
[40] JUNG, C.G. Símbolos da Transformação. (271).
[41] LEVI-STRAUSS, C. op.cit.p.39.
[42] “[…]A mão humana espontaneamente deixa sua marca, insistindo em imagens personalizadas; em todo lugar a natureza humana imediatamente escreve suas iniciais nos monumentos.Essas marcas feitas em lugares públicos, chamadas de deformação de monumentos, na verdade impõem uma forma pessoal numa parede impessoal ou numa estátua monumental. A mão humana parece querer tocar e deixar seu toque. […]”
HILLMAN, J. Cidade e Alma.p.40
[43] “[…]Agora falamos da mão como curadora, a palma da mão, que é a raiz etimológica de nossa palavra inglesa feel (sentir). Todos os tipos de poderes passam pela palma das mãos: acalmar, abençoar, aquecer, esbofetear, implorar. Nelas, nas palmas, estão as linhas de nosso destino, e por elas somos pregados. Também com elas somos ingênuos, mãos abertas, desnudadas.”
HILLMAN, J. O Livro do Puer.p.130.
[44] “A poesia do bricolage lhe advém, também e sobretudo, do fato de que não se limita a cumprir ou a executar, ele não “fala” apenas com as coisas, […]mas também através das coisas: narrando, através das escolhas que faz entre possíveis limitados, o caráter e a vida de seu autor. Sem jamais completar seu projeto, o bricoleur sempre coloca nele alguma coisa de si.”
LÉVI-STRAUSS, C. op.cit.p.36.
[45] “Assim que a psique entra em consideração o apenas-natural não é suficiente. O cultivo da alma é como qualquer outra atividade imaginativa. Requer artefato, assim como a política, a agricultura, as artes, as relações amorosas, a guerra ou a conquista de qualquer recurso natural. O que nos é dado não nos levará longe; algo tem que ser feito.”
Tradução livre de: “As soon as psyche enters into consideration, the only-natural is not enough. Soul making is like other imaginative activity. It requires crafting, just as does politics, agriculture, the arts, love relations, war, or the wining of any natural resource. What is given won’t get us through; something must be made of it.”
HILLMAN, J. The Dream and the Underworld. P.129.
[46] HILLMAN, J. O Livro do Puer.p.127.
[47] JUNG, C.G. Ab-Reação, Análise dos Sonhos e Transferência. (466)
[48] LEVI-STRAUSS, C. op.cit.p.38.
[49] GROTH, Marlise. A Vida na Palma da Mão.
[50] HILLMAN, J. idem.
[51] Aqui um tributo à LOPEZ-PEDRAZA, que descreve os aspectos mercuriais da análise de forma especial em seu livro Hermes e seus Filhos.
[52] HILLMAN, J. O Livro do Puer.p.127.
[53] “A figura de Eros está rodeada de instrumentos de marceneiro, tornando bem mais práticas e ao nível do artesanato as noções geralmente arrogantes de Eros[…].”
idem.p.127.
[54] JANSON, H.W. História da Arte.p.16.
[55] KUNRATH.in: JUNG, C.G. Psicologia e Alquimia. (396)
[56] HILLMAN, J. O Livro do Puer. p.127.